Na voz de quem sofreu; na voz de quem foi socorrido
“As folhas de bananeira ajudaram a isolar os braços feridos, para não colar a pele no lençol da cama”- por Jean Piuna
O curso MICALI seria o último que ministraríamos, como professores, no final de 2018. Para ele, nos preparamos, estudando a matéria que ensinaríamos e comprando os mantimentos necessários para nossos dias na aldeia.
Estávamos na expectativa do tempo que teríamos com o povo, e também do tempo em família, pois, nem sempre, conseguimos ir juntos à aldeia para dar aulas durante o curso MICALI- por causa da escola de Susana, nossa filha. Mas, dessa vez, mesmo sendo a semana de provas, a escola liberou Susana para que ela viajasse conosco, e fizesse as provas na semana seguinte, quando voltaríamos de viagem.
Juntos, imaginamos o tempo de estudo que teríamos na igreja indígena, e as visitas nas casas dos moradores. Também imaginamos os banhos de Igarapé, os jogos e filmes em família, e a fogueira que faríamos para assar os Marshmallows que levaríamos.
Não duraram meio dia…
Sabíamos que, ao chegar na aldeia, teríamos a limpeza da casa para fazer, os marimbondos para espantarmos, e o mato para ser cortado no quintal. Porém, todas as nossas expectativas, preparações e imaginações não duraram meio dia.
Depois de espantarmos os marimbondos, e limparmos parte da casa, algo fora do preparado e imaginado aconteceu– liguei a geladeira a gás para que fosse esfriando, e, depois, fui instalar a botija do fogão. Rosqueei o registro do fogão na botija, mas, como ficou vazando, retirei para rosquear novamente.
Neste momento, a válvula de segurança da botija não funcionou e o gás jorrou fortemente, preenchendo todo o ambiente. Rozinete, minha esposa, correu para desligar a botija da geladeira, mas não deu tempo.
O gás chegou até à chama da geladeira à gás. Recebi muitas queimaduras pelo corpo, por estar perto da botija de gás, e Rozinete também se queimou, mesmo estando a certa distância.
Graças a Deus, Susana não recebeu nenhuma queimadura, porque estava fora de casa. Ao ver a situação de queimadura dos pais, ela gritou e continuou gritando fora de casa, pedindo socorro.
Ouvindo o barulho dos gritos de socorro, muitos moradores da comunidade chegaram para nos ajudar- eles tiraram a botija em chamas de dentro da casa; e conseguiram babosa e leite de bananeira para cuidar dos ferimentos.
Socorro
Através dos números de telefone que fornecemos, eles tentaram, pelo rádio da comunidade, fazer contato com alguém na cidade para conseguir nossa remoção da aldeia.
Graças a Deus, através da ajuda de outra comunidade, os moradores conseguiram contato com o piloto Jeferson Gaino, da missão Asas de Socorro. Porém, o voo de emergência, para nossa retirada, só poderia acontecer no outro dia, devido ao horário.
Dormimos pouco naquela noite. As folhas de bananeira ajudaram a isolar os braços feridos, para não colar a pele no lençol da cama. O voo de Asas de Socorro nos buscou no outro dia de manhã. Ao chegar na cidade, fomos direto para o Hospital Geral de Roraima.
Fiquei internado por mais de uma semana, tomando soro e recebendo antibióticos.
Graças a Deus, estamos bem, e a nossa recuperação física, mental e espiritual tem acontecido a cada dia.
Em novembro de 2021, se completará três anos do nosso acidente. A pele onde aconteceu a queimadura ainda está escura, porém, damos glória a Deus pelo livramento e agradecemos a cada um por todo apoio recebido.
por Jean Piuna
→ Leia o relato de Sarah Gaino, e se impressione com suas experiências. Viver nas Asas da Dependência é uma experiência diária, desafiadora e fantástica.
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