“Descobrimos que Deus não despreza nenhuma dor, mas usa cada uma delas para Seus propósitos”
Que precioso aprender e refletir sobre o Caminho de Deus em meio ao Luto! Pensar em caminho, me traz a ideia de movimento, de algo dinâmico, de passos e caminhantes- companheiros de jornada que seguem na mesma direção.
Nunca a presença dos ‘caminhantes’ se fez tão necessária! Em meio à pandemia, ao luto generalizado, descobrimos que estamos carentes. O mundo está carente.
Como lidar com nossa carência? Não podemos deixar nossas dores esquecidas numa prateleira qualquer. Nossas dores precisam ser expostas e tratadas; precisam ser compartilhadas e curadas.
Felizmente, no caminho, descobrimos não apenas nossa carência, mas também Esperança! “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança: as misericórdias do Senhor…não têm fim; grande é a tua fidelidade… minha porção é o Senhor, portanto esperarei nele” (Lm 3.21 a 24). “Minha porção é o Senhor…”, bendita porção, necessária porção, sob medida, para mim, para você, para nós!
Santo movimento!
Em meio à espera do Senhor, o corpo de Cristo começa a se movimentar. Movimento de escuta e movimento de presença, fundamentais na caminhada. A boa escuta, respeitosa, do coração; a presença, o estar perto, andar junto, abraçar e consolar mutuamente. Santo movimento!
Mutuamente, mutualidade, “uns aos outros”, sinônimos da vida no corpo de Cristo. São os caminhos onde o Amor de Deus se torna palpável, onde ações de cuidado suprem as carências. É tempo de sentir a dor do outro e estar ao lado de quem sofre.
Uma irmã, em luto, recebeu um bilhete que dizia: “a sua dor é a nossa dor; você não está só”. Que consolo e que verdade! Um vislumbre da vida do Corpo. Paulo, em 1Co12, nos mostra que somos um só corpo (unidade); temos muitos e diferentes membros (diversidade); e servimos uns aos outros (mutualidade)!
Se prestarmos atenção, vamos perceber que o corpo de Cristo se faz visível antes, durante e depois do luto. Deus se revela por meio das pessoas que já estão perto, e daquelas que se aproximam e se colocam ao lado durante os dias difíceis, para nos servir em meio à dor. Gente movida por Deus!
Gestos de amor que preenchem o vazio; e a escuta respeitosa
No luto, o sentimento de abandono deixa um vazio, como se o Senhor tivesse nos desamparado. E não foi esse o sentimento que nosso Senhor experimentou e expressou na cruz? “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste?” (Mt 27.46) Ah, Ele conhece essa dor, Ele conhece nossa dor… Ele sabe!
Precisamos exercitar não apenas nossa empatia, sentir o que o outro sente, mas também nossa compaixão – agir em direção ao outro. Gestos de amor preenchem os vazios! Como podemos aprender?
Começamos aprendendo a ouvir. É preciso treinar a escuta respeitosa, aquela que não julga e não tem respostas prontas. Hoje existem muitas vozes, todo mundo quer falar, falamos muito…
O silêncio e a escuta
A escuta envolve o silêncio. Silêncio para ouvir a Deus, e silêncio para ouvir ao outro. O silêncio restaura, produz saúde. Na Palavra, aprendemos que Deus fala quando ficamos em silêncio: “somente em Deus a minha alma espera silenciosa…” (Sl 62.5). Ele nos pede silêncio: “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus” (Sl 46.10). Senhor, tenho tanta dificuldade em aquietar a minha alma…
Existe sabedoria divina em discernir os tempos: “há tempo de calar e tempo de falar” (Ec 3.7). Aprender a silenciar, diante de Deus e diante do outro, é uma benção! Nem todo o tempo precisa ser contemplado com palavras. O silêncio também fala, comunica a presença, o acolhimento, a empatia, o amor. Quem está vivendo o luto, fala quando encontra alguém que escuta. Pessoas querem falar com quem privilegia o silêncio, com quem sabe ouvir.
No Caminho, descobrimos que o luto desorganiza a vida, a identidade, as finanças, mas também tem benefícios- também promove reorganização. Parece chocante pensar nisso, não é mesmo? Foi Salomão quem tocou no assunto: “melhor ir à casa onde há luto do que onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Ec.7.2). A realidade do luto nos leva a considerar, a repensar a vida!
O luto e a sabedoria
O luto é importante, gera sabedoria. O luto é transformador: transforma a dor. Descobrimos que Deus não despreza nenhuma dor, mas usa cada uma delas para Seus propósitos. Ele nos move a considerar, a refletir, e a rever nossos projetos de vida, revelando outros dons, novas oportunidades e reorganizando a vida.
É importante lembrar que a dor é proporcional ao amor. Dói muito porque amamos muito. Amamos de forma diferente, e a dor também é diferente. Quero aprender a ver a dor do luto como um lembrete do amor…
O luto e a cura
O luto também é curador; a dor que gera consolo. Há consolo aos que choram: “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados” (Mt 5.4). Somos bem-aventurados, não pela dor, mas pelo consolo, consolo de Deus, consolo em meio ao corpo de Cristo.
A morte não tem a última palavra; foi vencida pelo Senhor! Quero te encorajar a seguir no Caminho, e seguir com o coração disposto nas mãos do Senhor. Disposto a aprender a exercitar a escuta amorosa, e disposto a praticar a presença que cura.
Assim, e aqui, terminamos nossas reflexões sobre o Caminho de Deus em meio ao Luto. Em nosso coração, levamos a certeza de que somos o povo do Caminho. Não estamos sozinhos em meio às nossas dores.
No caminho, encontramos braços, abraços, ouvidos, consolo, graça e Vida! Ele vive e um dia estaremos com Ele eternamente! Aleluias!
- Texto de Elayne Manzano, missionária em Asas de Socorro, enfermeira, mãe e conselheira. Reflexões a partir da mensagem compartilhada pelo Pr Carlos Más, Diretor Executivo de Asas de Socorro
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