Blog

“Era uma bonita manhã de sexta-feira, quando meu marido decolou o avião rumo à aldeia … Mas, no final da tarde, o celular dele tocou… E , de repente, um susto” – por Sarah Gaino, sobre suas experiências e o cuidado de Deus.

Sou missionária em Boa Vista, Roraima. Servindo aqui, nos confins da Amazônia, vivemos o clamor do salmista constantemente. Em meio aos desafios de voar pelos céus da Amazônia, voamos nas asas da providência e da dependência de Deus.

Sei que nos encontramos, muitas e muitas vezes, aflitos, com a mente ansiosa, e suplicando  por ajuda. Nos  momentos de dificuldades  e lutas diárias, ficamos desanimados, nos sentimos sozinhos, muitas vezes, sem esperança.

“Levanto os meus olhos para os montes, e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra.” Salmos 121:1-2

O salmista faz uma pergunta diante dos momentos de dificuldade que estava passando. Contextualizando para os nossos dias, a pergunta seria: “De onde vem a minha ajuda?” Ou “quem vai me ajudar?”

Uma história – como tudo pode mudar em questão de horas?

Meu marido é piloto missionário. Muitas histórias ele, e todos os outros pilotos que aqui trabalham, têm para contar…

Uma das histórias que me lembro bem foi quando meu marido foi levar, no avião de Asas de Socorro, uma família de missionários, para uma aldeia indígena. A família ficaria dez dias na aldeia. Nesta aldeia, especificamente, não existe a presença de missionários, pois a mesma já tem muitos dos próprios indígenas envolvidos no compartilhar do evangelho.

No entanto, de tempos em tempos, alguns missionários passam algumas semanas na aldeia, para ministrar o MICALI- Ministério  de Capacitação de Líderes Indígenas ( O propósito  do MICALI é levar a palavra de Deus de forma contextualizada, no formato de curso, na língua do próprio povo, para as igrejas indígenas. Mesmo se os professores não falam a língua indígena, eles têm sempre um tradutor do povo, e eles recebem a apostila traduzida na língua deles).

Lembro-me que era uma bonita manhã de sexta-feira, quando meu marido decolou o avião rumo à aldeia, transportando a família de missionários para o encontro do MICALI, que aconteceria nos próximos dias.

Esta aldeia, para onde o avião estava voando, fica em uma linda região, com bastantes serras e cachoeiras. Um lugar lindo. Chegando lá, meu marido desembarcou a família, descarregou o avião, e embarcou de volta para cidade de Boa Vista, Roraima.

Que noite longa!

No entanto, no final da tarde, o celular tocou. E , de repente, um susto- era o pessoal da SESAI, falando que havia acontecido um acidente com um missionário na aldeia- ele havia se queimado. E … sim … era o missionário que foi levado por meu marido, apenas algumas horas antes, com sua família.

Levamos um  grande susto. Como tudo pode mudar em questão de horas? Há muito preparo e trabalho para os missionários entrarem nas aldeias. Eles preparam tudo com antecedência, e calculam tudo que precisam levar, para não faltar nada, até o dia em que voam de volta à cidade. Mas, de repente, tudo mudou …

Mas Deus é o dono do tempo. Nada, absolutamente nada, foge do Seu controle soberano. Nós não sabíamos, com detalhes, o estado de saúde do missionário. Sabíamos que ele tinha sido atendido com os primeiros socorros pelo posto da SESAI, mas que precisava ser removido o mais rápido possível para cidade.

Já era final da tarde, então, meu marido não poderia fazer o voo no mesmo dia. Ficamos todos aflitos, pensando em como o missionário passaria a noite. Não sabíamos se a esposa e a filha dele também haviam se queimado. Que noite longa!

Mas Deus estava lá…

De onde vem o socorro? Não é das florestas, dos imensos rios aqui na Amazônia, nem dos montes que vem o socorro, mas do próprio criador dos céus e da terra.

A nossa operação aérea aqui no Norte não permiti fazer voos noturnos para as aldeias. Tivemos então que esperar o dia amanhecer… No cap. 3, do Salmos 121, o salmista nos diz que: Ele não permitirá que os teus pés vacilem. Aquele que guarda a Israel, não dormita nem dorme. Absolutamente nada pode surpreender a Deus.

Nosso Deus não se cansa, e está sempre atento às necessidades dos seus filhos, mesmo em situações na quais achamos que o Senhor nos abandonou.

Durante a noite, oramos para que Deus, em sua infinita misericórdia, desse uma noite um pouco mais amena para aquela família.

Depois de nossa angústia, a longa noite passou, e, na manhã do sábado, meu marido foi bem cedo para o hangar e levantou voo. Pousando na aldeia, desembarcou, e foi direto para a casa em que a família estava. Chegando lá, ele se deparou com a cena do missionário e sua esposa feridos.

Nas  aldeias, não há energia elétrica, e alguns eletrodomésticos dos missionários funcionam à gás, gerador  ou à bateria. Assim, chegando em casa, o missionário foi ligar a geladeira, que funcionava através do gás de cozinha, mas o botijão de gás vazou, pegou fogo, e queimou gravemente ao missionário, e também à sua esposa.

Ao encontrar a família ferida, imediatamente, meu marido carregou o avião, e decolou para cidade. Chegando na cidade, a equipe da missão, a qual essa família de missionários serve, já estava esperando pela família no hangar de Asas de Socorro, e os levaram direto para o hospital.

O missionário ficou internado mais de uma semana, para tomar antibióticos e soro; a esposa, que se queimou um pouco menos, recebeu tratamento e não precisou ficar internada.

Este mês em novembro, completa-se três anos do acidente. Vemos, através dessa história, o cuidado e livramento de Deus, para com essa família. Nas circunstâncias do ocorrido, tudo poderia ter sido muito pior. Mas Deus estava lá, independente da situação, Ele não abandona seus filhos. vem ao nosso socorro.

O avião não é um fim, mas o meio para levar asas aos que dão suas vidas, nos confins da Amazônia.