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 Uma realidade maior que a sombra da morte.

Quando fazemos o caminho de volta; quando vemos o que não víamos.

Morando no Amazonas, aprendi a valorizar muito a sombra das árvores. É uma sombra que traz alívio do calor intenso, permite respirar melhor, e ainda recuperar as forças. Mas, em minha caminhada cristã, descobri que existe um outro tipo de sombra…

Quem fala dessa sombra é Davi, no salmo 23.4: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte…”.  O texto diz que existe um vale onde a morte faz sombra. É a imagem de nuvens bem escuras, pairando no vale, anunciando tempestades e nos assustando. 

Enquanto estamos vivos, temos que encarar a sombra da morte, em todo o tempo, e não apenas no final da vida. Podemos identificar esta sombra em diversas situações:

• Perda na saúde: doenças crônicas; perda de funções físicas;

• Perda de vigor e juventude; 

• Perda de opções: falta de tempo, defasagem do sustento financeiro, cerceamento da liberdade inclusive em relação à fé; 

• Perda de utilidade: em nossa cultura, temos valor enquanto somos úteis;

• Perda relativa de relacionamentos: como um divórcio, um filho que abandonou o lar;
• Perda absoluta de pessoas queridas: com a morte.

Mas e quando a sombra do luto vem…

Em algum momento, todos temos que lidar com a perda de quem amamos, de pessoas muito queridas em nosso coração. Na maioria das vezes, neste processo de luto, achamos que a morte aconteceu cedo demais. 

É o momento em que percebemos que a morte é uma inimiga, e não uma amiga; vencida pelo Senhor, sim, mas ainda uma inimiga (1Co15.26,54,55).

Recebemos o consolo de Deus, mas não temos mais a presença de quem morreu. Ficamos com os sons, o cheiro, as lembranças da morte e sua dor.

 Conversando com Marta, no contexto da morte de seu irmão Lázaro, Jesus apresentou um princípio eterno que nos traz esperança e certeza de que existe uma realidade maior do que a morte: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo11. 5). A palavra final é de Vida em Jesus! Que verdade consoladora! 

Quando lemos o que Jesus disse à Marta, ficamos cheios de esperança. Quando prestamos atenção no que Davi falou (Sl23.4), percebemos também algo maior e muito mais poderoso do que a terrível sombra da morte: a Presença de Deus! Quanto consolo e segurança existe na certeza de que “Tu estás comigo”!

Fecho meus olhos, e me lembro desta simples frase repetida em sussurros em meio aos vales: “Tu estás comigo”, “Tu estás comigo”, “Tu estás comigo”!

Além da sombra da morte

Será que O estou reconhecendo? 

Minhas frustrações, dificuldade de ver …. E o Deus que caminha comigo 

No caminho de Emaús (Lc24), encontramos dois discípulos de Jesus, experimentando a sombra da morte. Quem morreu? Jesus, o Mestre, o Senhor, a esperança de Israel estava morto. Os preciosos detalhes do texto traduzem a decepção, a incerteza e a dor que viviam e que conhecemos tão bem em meio ao luto.

O relato de Lucas me faz parar e adorar: ”Jesus se aproximou e ia com eles” (v.18). Ele se aproximou… ia com eles… O nosso Senhor se aproximou dos discípulos que sofriam; e Ele se aproxima de nós, caminha ao nosso lado.  Mas eles não O reconheceram.

Será que também tenho deixado de ver Jesus ao meu lado, em cada passo do caminho? O mais incrível é que, mesmo sem ser reconhecido, Ele estava lá! Deus presente, Emanuel!

Ao lado deles, Jesus perguntou: “Do que vocês estão falando pelo caminho? Quais as últimas notícias?” (v.17) Ah, as perguntas de Jesus… benditas perguntas que trazem à tona o que temos no coração; perguntas que revelam expectativas, tristezas, dores, esperanças…

“Nós esperávamos…” (v.21), foi a fala dos discípulos revelando a desilusão pelas expectativas frustradas. Expectativas frustradas deixam claro que não temos e nunca tivemos o controle nas mãos. Eu esperava, tu esperavas, nós esperávamos… 

O próprio fato de terem deixado Jerusalém após a morte de Jesus (v.13), e se distanciando da comunidade dos discípulos, revelou o desencanto com a vida que enfrentavam. Estar junto parece ter se tornado um peso, e escolheram se distanciar. Quantas vezes já trilhamos caminhos de fuga…

A última notícia para nós é a Vida! 

Já ouviu falar de mente monotemática? Mesmo em um mundo tão dinâmico como o nosso, quem experimenta a sombra da morte, perde por um tempo as outras dimensões do viver. Sem conseguir mudar de assunto, ficamos como que ‘curtindo’ a dor assim como um curtidor curte o couro. Imagino que agora você sabe o que é mente monotemática! Eu sei…

Na conversa com Jesus, o quadro mudou. Ele é o único que tem o poder de trazer luz e revelar o que, em meio à dor, não conseguimos ver. O Senhor deixou evidente que a última notícia para nós é a Vida!

À mesa com os discípulos (v.30 a 32), Ele abençoou, partiu e lhes deu o pão, como fez tantas outras vezes. Os olhos foram abertos e tudo passou a fazer sentido. Não passe muito rápido pela cena; pare, leia, releia, reflita… Abre nossos olhos, Senhor! 

O coração, antes aflito, agora, ardia novamente diante da Santa Presença do Senhor; um resgate da espiritualidade firmada na Verdade! Ao reconhecerem a Presença de Jesus, os discípulos imediatamente iniciaram o caminho de volta (v.33 a 35): volta à Jerusalém, volta à comunhão, volta à missão. Quantos preciosos e necessários retornos para a vontade do Senhor! 

A sombra da morte é uma dura realidade para todos nós, mas não estamos sozinhos! Davi e os discípulos em Emaús viveram a palpável realidade da Presença de Deus!

“Tu estás comigo” é a Presença que nos encontra hoje no Caminho de Deus em meio ao Luto, e é também a Presença que nos faz iniciar o caminho de volta, fazendo nosso coração arder de novo…  Aleluias!

• Texto de Elayne Manzano, missionária em Asas de Socorro, enfermeira, mãe e conselheira. Reflexões a partir da mensagem compartilhada pelo Pr Wallace Ramos, membro do Conselho Administrativo de Asas de Socorro.