Histórias de uma vida, em missão

Histórias de uma vida, em missão

Um pedido público de perdão e uma mulher resgatada por amor, por puro amor. 

Durante dois dias, em uma terça-feira e um domingo, acompanhei a missionária Cida, Aparecida Oliveira, de Asas de Socorro, em seus trabalhos no bairro Puraquequara, periferia de Manaus, e em uma pequena vila ribeirinha, a comunidade Santa Luzia, localizada entre a mata e o rio, às margens de um lago.

Abaixo, compartilho sobre minhas experiências de terça-feira

No próximo post, compartilharei sobre a visita à comunidade ribeirinha.

Experiências marcantes, no Norte do país…

Terça-feira- Pedidos de perdão e declarações de amor

Tudo começou assim…

Pela primeira vez, desci aquelas escadas e entrei naquela igreja. Era uma pequena sala de reunião, com algumas palavras escritas nas paredes- fé, esperança, amor.

Ao entrar pela porta, ouvi as mulheres cantando alguns hinos. Assentei-me em uma cadeira e comecei a participar da reunião liderada por Cida. 

Mas, inesperadamente, diante de todas as outras mulheres, uma mulher, que estava perto de mim, levantou-se e disse-

Quero pedir perdão. Magoei uma irmã da igreja, e quero pedir perdão a ela”– disse a mulher. 

Fiquei impressionada. Um pedido de perdão feito publicamente, e voluntariamente. O encontro continuou, os cânticos também. 

Mas, alguns minutos depois do pedido de perdão, uma outra mulher foi à frente da igreja, e disse que queria pedir perdão à irmã que a tinha magoado. Afinal, ela também havia errado. Não era apenas vítima, mas também tinha sua parcela de culpa, principalmente por ter ficado magoada. 

As lágrimas corriam pelo rosto da mulher que havia primeiro pedido perdão. 

Fiquei ainda mais impressionada. Parecia-me que ali, entre aquelas paredes, naquele encontro de estudo bíblico entre mulheres, em um bairro da periferia de Manaus, a essência dos ensinamentos de Jesus era vivida intensamente, publicamente, e na prática, sem melindres ou timidez- perdão, restauração, paz e união. Bençãos incríveis e surpreendentes… 

Na sequência do encontro, foi lido o Salmo 126- “Éramos como os que estão sonhando; os que semeiam em lágrimas, com cânticos de júbilo segarão.

A palavra bíblica parecia ir exatamente ao encontro de nossos dias e ao dia a dia daquelas mulheres- mães, esposas, trabalhadoras, moradoras de um bairro da periferia de Manaus- um dos locais com a renda per capita mais baixa da cidade. Ali, parecia que a fé delas era renovada, e também a minha…

Por amor…

Depois de pedidos de perdão, cânticos, orações, reflexões, o encontro de mulheres acabou. Mas eu ainda estava impressionada com tudo que vi e continuei assentada em minha cadeira. Comecei então a conversar com uma mulher, que estava ao meu lado.

Ela me contou parte de sua história de vida. Me disse que, hoje, canta hinos de louvor e fala em igrejas. Mas, no passado, sua vida era muito diferente.

Usou drogas pesadas- cocaína, craque. Seus amigos eram criminosos.

No entanto, hoje, ela conta,  foi resgatada pelo amor. 

Deixou a vida que tinha, as drogas e a bebida. Casou-se, tornou-se mãe, esposa, e parte de uma comunidade cristã. Hoje, ela canta, sorri e parece muito feliz ao lado de suas amigas e mulheres de seu bairro, e de seu pequeno grupo de mulheres.

Minha mãe me trouxe para os caminhos certos, por amor. Ela ia atrás de mim, e sempre me tratou com muito amor. Foi com amor que ela me conquistou e me tirou do mundo das drogas em que eu estava. Minha mãe nunca foi bruta ou ruim comigo. Me amou.

Acabou nosso encontro e precisei ir embora.
Mas fiquei com aquelas palavras em minha cabeça- com amor, por amor.

Minha esperança foi renovada.
Como aquelas mulheres, sei que preciso do Evangelho vivido em sua essência.

Preciso constantemente das orações de súplicas e das palavras de perdão e restauração.
Preciso do amor de Deus, de seu puro e sublime amor.

Graças a Ele, que nos amou primeiro, e antes da fundação do mundo.

Que a vida continue assim, com pedidos de perdão e atos de amor.

  • Escrito por: Rita Santos, jornalista e missionária de Asas de Socorro em Manaus, AM. Casada com Rodrigo e mãe de Vinícius, Noé e Yasmin.